Agricultores britânicos protestam contra novo imposto sobre herança

Manifestação reúne milhares contra mudanças tributárias.
O protesto, que reuniu agricultores de todo o Reino Unido, foi marcado por uma forte presença nas ruas da capital britânica. Embora os organizadores tenham solicitado que os manifestantes não trouxessem máquinas agrícolas para o centro de Londres, alguns tratores foram vistos passando por Downing Street com cartazes que diziam “a última gota” e “sem agricultores, sem comida”. A manifestação incluiu uma marcha até o Parlamento, onde oradores como o apresentador de televisão e agricultor Jeremy Clarkson se dirigiram à multidão. Além disso, cerca de 1.800 agricultores foram convidados a entrar no Parlamento para um “lobby em massa” organizado pelo Sindicato Nacional de Agricultores (NFU, na sigla em inglês). O presidente da NFU, Tom Bradshaw, declarou que “o impacto humano desta política é simplesmente inaceitável, é errado” e acrescentou que a medida “está a arrancar as pernas à segurança alimentar britânica”.
A controvérsia em torno do novo imposto sobre herança para propriedades agrícolas se insere em um contexto mais amplo de desafios enfrentados pelos agricultores britânicos na última década. Muitos agricultores apoiaram inicialmente o Brexit, vendo-o como uma oportunidade de sair da complexa e criticada Política Agrícola Comum da União Europeia. No entanto, desde então, o setor tem enfrentado uma série de dificuldades, incluindo atrasos burocráticos, falta de subsídios para acompanhar a inflação e novos acordos comerciais com países como Austrália e Nova Zelândia, que abriram a porta para importações mais baratas. Nesse cenário, a alteração fiscal proposta pelo governo trabalhista é vista por muitos como “a última gota”. Olly Harrison, um agricultor de quinta geração e co-organizador do protesto, expressou a frustração do setor ao afirmar que “em quatro dos últimos cinco anos, perdemos dinheiro” e que a única motivação para continuar era o desejo de preservar o negócio para as gerações futuras.
O governo trabalhista, por sua vez, defende a medida argumentando que a “grande maioria” das explorações agrícolas – cerca de 75% – não terá de pagar o imposto sucessório. Além disso, o governo destaca que várias lacunas significativas na legislação permitem que um casal de agricultores passe uma propriedade no valor de até 3 milhões de libras (3,6 milhões de euros) para seus filhos sem impostos. A porta-voz do primeiro-ministro Keir Starmer, Camilla Marshall, afirmou que a decisão sobre o imposto foi “difícil”, mas necessária, e que não está sendo reconsiderada. Os defensores da medida argumentam que ela permitirá recuperar recursos de investidores ricos que compraram terras agrícolas como investimento, contribuindo para o aumento do custo dos terrenos agrícolas. No entanto, a controvérsia em torno dessa política fiscal promete continuar, com os agricultores britânicos determinados a lutar contra o que consideram uma ameaça à viabilidade de suas operações e à segurança alimentar do país.