Governo federal descarta alteração na validade de alimentos

Ministro da Casa Civil esclarece posição do governo.
A polêmica teve início quando a Abras propôs ao governo a adoção do modelo “best before” (consumir preferencialmente antes de), já utilizado em alguns países. Nesse sistema, o produto pode perder frescor ou nutrientes após certa data, mas ainda é considerado seguro para consumo. Diferentemente do modelo atual no Brasil, que considera a data de validade como limite para ingestão segura do alimento. A associação argumentava que a mudança poderia gerar uma economia de R$ 3 bilhões ao reduzir o desperdício. No entanto, a ideia foi rapidamente criticada nas redes sociais, com usuários acusando o governo de querer “fazer a população consumir alimentos vencidos” ou “fazer pobre comer comida velha”. A oposição também aproveitou para atacar a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com parlamentares como Nikolas Ferreira (PL-MG) ironizando: “A picanha não veio e, se vier, será podre”.
Diante da repercussão negativa, o ministro Rui Costa buscou esclarecer a posição do governo em entrevista à CNN Brasil e em suas redes sociais. Ele afirmou categoricamente que não há intenção de intervir nos preços dos alimentos ou alterar as regras de validade. Costa ressaltou que várias sugestões foram apresentadas pelo setor varejista durante as discussões sobre medidas para baratear os alimentos, mas que a proposta específica sobre validade não tem possibilidade de ser adotada no Brasil. O ministro também corrigiu sua fala anterior sobre “intervenções” do governo, esclarecendo que serão adotadas “medidas” para baratear os alimentos na mesa do povo brasileiro, sem especificar quais seriam essas ações. A Casa Civil informou que as propostas serão avaliadas e construídas em reuniões com ministérios e outros órgãos governamentais, garantindo a participação de produtores e associações no processo.
O episódio evidencia a sensibilidade do tema da alimentação no Brasil e a rapidez com que propostas polêmicas podem gerar reações nas redes sociais, forçando o governo a se posicionar. A questão da validade dos alimentos é uma pauta antiga da Abras, que já havia sido discutida durante o governo anterior. Agora, o governo Lula se vê diante do desafio de encontrar soluções para reduzir o preço dos alimentos sem recorrer a medidas controversas. Uma reunião entre os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Carlos Fávaro (Agricultura) e Paulo Teixeira está prevista para 30 de janeiro, onde espera-se que sejam definidas estratégias concretas para abordar o problema. Enquanto isso, o governo descarta medidas intervencionistas como controle de preços ou regulação de exportações, buscando alternativas que não gerem conflitos com o setor produtivo ou alarme entre os consumidores.
Governo busca alternativas para redução de preços
Com o recuo na proposta de alteração das regras de validade, o governo federal agora concentra esforços em encontrar outras formas de baratear os alimentos para a população brasileira. Entre as possibilidades em análise estão a revisão dos preços mínimos dos alimentos agrícolas estabelecidos pelo Conselho Monetário Nacional, o que poderia impactar na gestão de estoques. Além disso, outras sugestões do setor varejista, como a autorização para venda de remédios sem receita em supermercados e a redução do prazo de reembolso dos cartões de crédito, permanecem em discussão. O desafio do governo é equilibrar as demandas por preços mais acessíveis com a necessidade de manter a segurança alimentar e respeitar as práticas culturais de consumo no país.