Trump impõe aumento de tarifas sobre aço e alumínio para 50% excluindo Reino Unido

Trump eleva tarifas de aço e alumínio para 50%, exceto para o Reino Unido.
Decreto causa tensão global nos mercados de metais.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou na terça-feira (3) um decreto que dobra as tarifas sobre importações de aço e alumínio, elevando-as de 25% para 50%, medida que entrou em vigor na quarta-feira (4). A decisão afeta praticamente todos os parceiros comerciais americanos, com exceção do Reino Unido, único país a obter isenção temporária após fechar um acordo comercial preliminar com os EUA durante uma pausa de 90 dias em uma série mais ampla de tarifas. O anúncio foi feito pelo republicano durante um comício realizado em Pittsburgh, na Pensilvânia, na última sexta-feira (31), onde ele celebrou o acordo de investimento entre a siderurgia japonesa Nippon Steel e a empresa norte-americana U.S. Steel. Trump justificou a medida como necessária para dar “ainda mais segurança à indústria no país”, enquanto dados do governo americano apontam que o preço dos produtos siderúrgicos já aumentou cerca de 16% desde que o republicano retornou à presidência. A nova política tarifária surge poucos dias depois de um tribunal de recurso ter levantado um bloqueio do Tribunal de Comércio Internacional (TCE) às tarifas sobre importações de vários países, embora esse bloqueio não tivesse afetado as tarifas específicas sobre o aço e alumínio.
O impacto desta medida protecionista será sentido principalmente pelos parceiros comerciais mais próximos dos Estados Unidos, com Canadá e México figurando como os mais afetados. De acordo com dados do Census Bureau, os EUA importam aproximadamente um quarto de todo o aço que consomem, sendo que os canadenses e mexicanos representam a maior parcela dessas importações. No caso do alumínio, a situação é ainda mais crítica para o Canadá, que exporta para os EUA aproximadamente o dobro dos volumes combinados dos outros dez principais exportadores mundiais do metal. Os americanos dependem de fontes estrangeiras para obter cerca de metade do alumínio que utilizam, tornando o aumento tarifário extremamente impactante para a cadeia global de suprimentos. Outros grandes exportadores de aço para os EUA, incluindo Brasil, Coreia do Sul e países europeus como Alemanha, Itália, Suécia e Holanda, também sofrerão consequências significativas com a nova taxa de 50%. O Reino Unido, embora não figure entre os principais exportadores de nenhum dos dois metais para os EUA, continuará com uma tarifa de 25% em vigor pelo menos até 9 de julho, enquanto os detalhes do acordo comercial recentemente assinado entre os dois países são finalizados. Esta situação evidencia a estratégia de Trump de usar tarifas como ferramenta de pressão para renegociar acordos comerciais bilaterais mais favoráveis aos interesses americanos, especialmente em setores considerados estratégicos para a economia nacional.
As reações internacionais ao aumento tarifário não demoraram a surgir, com diversos parceiros comerciais já sinalizando medidas de retaliação. O gabinete do primeiro-ministro canadense, Mark Carney, informou que o país está “envolvido em negociações intensas e ativas” para que essas tarifas sejam removidas, considerando o profundo impacto que terão na indústria local. O ministro da Economia do México, Marcelo Ebrard, classificou as tarifas como “insustentáveis e injustas”, destacando o fato de que o México importa mais aço dos EUA do que exporta para o país vizinho, o que torna a medida ainda mais controversa. Na Europa, a União Europeia já advertiu que, caso não seja encontrada uma solução mutuamente aceitável, “contramedidas” entrarão automaticamente em vigor em 14 de julho, podendo ser antecipadas “se as circunstâncias o exigirem”, segundo declarou um porta-voz do bloco. Enquanto isso, as tensões com a China continuam elevadas, com a Casa Branca tendo anunciado que Trump esperava conversar com o líder chinês Xi Jinping “provavelmente esta semana”. Contudo, em mensagem publicada em sua rede social Truth Social nesta quarta-feira, o presidente americano afirmou ser “extremamente difícil chegar a um acordo” com Xi Jinping, sinalizando que as disputas comerciais entre as duas maiores economias do mundo devem se intensificar nos próximos meses.
Este aumento tarifário sobre aço e alumínio representa apenas o início de uma nova onda protecionista promovida pela administração Trump. Segundo informações divulgadas, o presidente pretende estender medidas semelhantes a outros setores estratégicos, como a indústria automobilística, produtos farmacêuticos e semicondutores. As tarifas setoriais aplicadas ao aço e alumínio são, por enquanto, as únicas que não foram bloqueadas por decisões judiciais recentes, que visaram taxas aplicadas indiscriminadamente a diversos produtos. Especialistas em comércio internacional alertam que esta escalada tarifária pode desencadear uma guerra comercial global, com efeitos negativos para a economia mundial ainda se recuperando de crises recentes. Para os consumidores americanos, a expectativa é de aumento nos preços de produtos que utilizam aço e alumínio em sua composição, desde automóveis e eletrodomésticos até materiais de construção, potencialmente alimentando pressões inflacionárias. Para a indústria siderúrgica doméstica, contudo, a medida representa uma proteção adicional contra a concorrência estrangeira, podendo estimular investimentos locais e criação de empregos no setor, alinhando-se à política de “America First” defendida por Trump. Nos próximos dias, negociações intensas devem ocorrer em Paris entre representantes americanos e seus parceiros comerciais, na tentativa de encontrar soluções que amenizem os impactos desta nova realidade tarifária.
Impactos econômicos e perspectivas de retaliação
O aumento das tarifas de importação sobre aço e alumínio para 50% representa um dos movimentos mais agressivos da política comercial de Donald Trump desde seu retorno à presidência. Analistas econômicos preveem que este “tarifaço”, como tem sido chamado, poderá redesenhar as cadeias globais de fornecimento de metais nos próximos meses, à medida que exportadores busquem mercados alternativos e os Estados Unidos potencialmente enfrentem escassez em determinados produtos especializados. A indústria americana de transformação, que depende desses insumos, deverá absorver custos adicionais significativos, possivelmente repassando-os ao consumidor final. As bolsas de valores internacionais já registraram quedas em ações de empresas do setor metalúrgico, evidenciando a preocupação dos investidores com os desdobramentos desta nova fase de protecionismo comercial. Enquanto isso, parceiros comerciais históricos dos EUA preparam suas respostas, com a União Europeia já tendo elaborado uma lista de produtos americanos que poderão sofrer sobretaxas retaliatórias, incluindo itens emblemáticos como motocicletas Harley-Davidson, uísque bourbon e jeans Levi’s, repetindo a estratégia adotada em disputas comerciais anteriores.