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Desaceleração da China faz Vale diminuir teor de minério de ferro na contramão de aço mais limpo

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Vale vai reduzir teor de minério de ferro nos produtos vendidos à China.

Mineradora brasileira segue tendência global de adaptação ao mercado chinês.

A Vale anunciou que nos próximos meses lançará um novo produto de minério de ferro com teor menor do que o geralmente comercializado pela empresa, uma decisão que reflete a atual situação do mercado siderúrgico chinês. A medida, revelada em maio de 2025, segue movimento semelhante de outras grandes mineradoras globais, como a Rio Tinto, que recentemente anunciou a redução do teor de seu principal produto de 61,6% para 60,8%. Esta estratégia ocorre em um momento em que a China, maior produtor mundial de aço, enfrenta desafios em seu mercado interno, resultando em um aumento significativo da exportação de aço pelo país asiático. Segundo Artur Bontempo, analista de aço e minério de ferro da consultoria Wood Mackenzie, “É um recorte do momento que está bastante ligado com a situação da China. Hoje há um movimento muito grande de exportação de aço pela China, o que significa que eles não estão consumindo tudo o que produzem, então naturalmente essa oferta em excesso pressiona o preço e consequentemente as margens diminuem”. O movimento da Vale ocorre apesar da empresa ter reportado anteriormente, em fevereiro de 2025, expectativas de uma demanda firme por minério de ferro no mercado chinês para este ano, o que evidencia uma rápida mudança nas condições de mercado que tem forçado ajustes estratégicos nas principais mineradoras mundiais.

A decisão da Vale de reduzir o teor de seus produtos de minério de ferro representa uma importante adaptação estratégica em um cenário de mercado desafiador, mas também levanta questões sobre os impactos ambientais dessa mudança. O minério de ferro de alto teor é crucial para a descarbonização da indústria siderúrgica global, uma vez que pode ser utilizado tanto na rota de redução direta quanto nos altos-fornos tradicionais que utilizam carvão. Na China, o minério de alto teor é frequentemente empregado para intensificar a produção de ferro-gusa, reduzindo a quantidade de carvão necessária no processo e, consequentemente, diminuindo as emissões de CO2. A redução do teor de minério, embora compreensível do ponto de vista comercial, caminha na direção oposta aos esforços globais de descarbonização do setor siderúrgico. Este movimento ocorre em um contexto em que a Vale já havia demonstrado desempenho abaixo do esperado no primeiro trimestre de 2025, com uma queda de 4,5% na produção de minério de ferro em comparação ao mesmo período do ano anterior, totalizando 67,7 milhões de toneladas. Apesar desta redução na produção, a empresa conseguiu aumentar suas vendas em 3,6% no período, alcançando 66,1 milhões de toneladas, graças ao uso estratégico de estoques formados em trimestres anteriores para compensar as restrições de embarque no Sistema Norte devido às chuvas intensas.

As condições atuais de mercado têm levado a Vale a priorizar a oferta de produtos de teor médio, visando maximizar a geração de valor do seu portfólio em um cenário de preços mais baixos. No primeiro trimestre de 2025, os preços praticados para finos e pelotas de minério de ferro caíram 9,8% e 18,1%, respectivamente, em comparação ao mesmo período do ano anterior. Esta queda nos preços, combinada com os desafios de produção enfrentados pela empresa, tem pressionado as margens de lucro da mineradora, que busca estratégias para manter sua competitividade no mercado global de minério de ferro. Apesar desses desafios, a Vale mantém seu plano de produção para 2025 entre 325 e 335 milhões de toneladas, apoiando-se nos avanços dos projetos VGR1 no Sistema Sul e Capanema no Sistema Sudeste, que contribuem para uma maior flexibilidade operacional. A empresa também continua investindo na expansão de suas operações em Carajás, com um aporte previsto de R$70 bilhões nos próximos cinco anos, o que permitirá que a produção de minério de ferro da região atinja um ritmo de 200 milhões de toneladas anuais até 2030. Este investimento é parte da estratégia de longo prazo da Vale, que considera Carajás uma área estratégica não apenas por suas reservas de minério de ferro de alto teor, estimadas em 5,2 bilhões de toneladas, mas também por suas reservas “únicas” de cobre, calculadas em 1,2 bilhão de toneladas, posicionando o Brasil como um player chave em minerais críticos.

As perspectivas para o mercado de minério de ferro em 2025 e nos anos seguintes permanecem complexas e dependentes de múltiplos fatores globais, com a demanda chinesa continuando a exercer papel fundamental nas estratégias das mineradoras. Gustavo Pimenta, presidente-executivo da Vale, afirmou em fevereiro que, apesar dos desafios, a empresa enxerga um mercado em equilíbrio para 2025, com a China mantendo uma demanda importante e outros mercados, como Índia e Sudeste Asiático, apresentando crescimento acelerado. “Vemos a Índia com um crescimento importante, tem um reflexo no mercado… Vemos outros mercados crescendo de uma forma um pouco mais acelerada ano contra ano, o que faz com que a gente veja um mercado em equilíbrio em 2025”, destacou o executivo. A Vale ajustou sua projeção de capex para 2025 para US$5,9 bilhões, uma redução em relação à meta anterior, refletindo um cenário de maior cautela nos investimentos. Apesar dos desafios de curto prazo e da decisão de reduzir o teor do minério de ferro em seus produtos, analistas de mercado mantêm uma visão positiva sobre as ações da mineradora, destacando seu excelente histórico de geração de caixa e baixo nível de alavancagem. A capacidade da empresa de adaptar sua estratégia às condições de mercado, priorizando produtos que maximizem o valor de seu portfólio, combinada com seus investimentos de longo prazo em áreas estratégicas como Carajás, sugere que a Vale está posicionada para navegar com relativa segurança pelo atual cenário desafiador do mercado global de minério de ferro, mantendo sua competitividade e relevância no setor.

O futuro da mineração brasileira em um mercado global em transformação

A redução do teor de minério de ferro pela Vale representa um ajuste tático importante frente às condições atuais de mercado, mas a empresa mantém seu compromisso estratégico com o desenvolvimento de seu portfólio de produtos de alta qualidade a longo prazo. Com o programa Novo Carajás e a criação de uma diretoria específica para cuidar de sua principal região produtora, a Vale demonstra que, apesar dos desafios conjunturais, segue apostando no potencial do Brasil como fornecedor de minério de alto teor e minerais críticos para a transição energética global. A capacidade da companhia de equilibrar as demandas de curto prazo do mercado com suas ambições de longo prazo será determinante para sua performance nos próximos anos, em um cenário onde a descarbonização da indústria siderúrgica global continuará ganhando importância, potencialmente revalorizando produtos de maior teor no futuro.