Embaixada dos EUA oferece recompensa de US$ 10 milhões por informações sobre Hezbollah no Brasil

Oferta de recompensa gera mal-estar diplomático.
A Embaixada dos Estados Unidos em Brasília divulgou na segunda-feira, 19 de maio de 2025, uma oferta de recompensa de até US$ 10 milhões (aproximadamente R$ 50 milhões) para qualquer pessoa que forneça informações sobre “mecanismos financeiros do Hezbollah na área da Tríplice Fronteira”, região que engloba Brasil, Argentina e Paraguai. A publicação, que foi compartilhada simultaneamente pelas representações diplomáticas americanas nos três países, não foi previamente comunicada ao Ministério das Relações Exteriores brasileiro, o Itamaraty, o que gerou desconforto diplomático. No comunicado divulgado nas redes sociais, a embaixada americana afirma que os informantes podem “se qualificar para uma recompensa e relocação”, incentivando brasileiros a entrarem em contato diretamente com o serviço de segurança do Departamento de Estado americano. A iniciativa ocorreu no mesmo dia em que o almirante Alvin Holsey, chefe do Comando Sul das Forças Armadas dos EUA (SouthCom), desembarcou em Brasília para uma visita oficial de três dias, durante a qual deve se reunir com o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro Filho, e com os comandantes das três Forças Armadas brasileiras.
Segundo as informações divulgadas pelo programa Rewards for Justice, vinculado ao Departamento de Estado americano, o grupo Hezbollah, que é classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, estaria operando ativamente na região da Tríplice Fronteira através de uma complexa rede de atividades ilícitas e legais. De acordo com a embaixada americana, o grupo libanês tem “gerado receita por meio da lavagem de dinheiro, tráfico de narcóticos, comércio ilícito de diamantes e contrabando de dinheiro, petróleo, carvão e cigarros”. Além disso, a representação diplomática acusa o Hezbollah de se envolver em atividades comerciais aparentemente legítimas, como construção civil, venda de imóveis e operações de comércio exterior, que serviriam como fachada para suas operações de financiamento. A iniciativa americana faz parte de uma estratégia mais ampla do governo do presidente Donald Trump para desmantelar as redes financeiras do grupo, que segundo estimativas do Departamento de Estado, arrecada cerca de US$ 1 bilhão por ano globalmente, entre ajuda estatal, principalmente do Irã, negócios internacionais, redes de apoiadores e esquemas ilícitos.
A oferta de recompensa causou significativo mal-estar entre autoridades brasileiras, especialmente nos círculos militares. Generais ouvidos pelo jornal Estadão, sob condição de anonimato, classificaram a iniciativa como uma “provocação” que compromete o diálogo e a cooperação com o governo americano. Segundo essas fontes, a ação americana parece priorizar a “lacração de internet” em detrimento do trabalho sério e coordenado com os países da região. O programa Rewards for Justice, que desde sua criação em 1984 já pagou mais de US$ 250 milhões em recompensas, está sendo utilizado como ferramenta para obter informações privilegiadas sobre as operações financeiras do Hezbollah na América do Sul. A estratégia americana é especialmente sensível no contexto brasileiro, onde o Hezbollah não é oficialmente classificado como organização terrorista, diferentemente dos Estados Unidos, que mantém o grupo na lista de organizações terroristas estrangeiras. No Líbano, o Hezbollah atua como partido político armado ligado à comunidade xiita, sob o pretexto de combater a ação de Israel, mas com forte influência e apoio do Irã, adversário geopolítico dos Estados Unidos no Oriente Médio.
A iniciativa ocorre em um momento de tensão crescente entre Estados Unidos e Irã, principal apoiador do Hezbollah, e coincide com a visita do chefe do Comando Sul das Forças Armadas americanas ao Brasil, o que levanta questões sobre a tentativa dos EUA de expandir sua influência na região. Especialistas em relações internacionais apontam que a oferta pública de recompensa, sem coordenação prévia com as autoridades locais, pode ser interpretada como uma violação da soberania brasileira e um desrespeito aos protocolos diplomáticos estabelecidos. As autoridades brasileiras ainda não se manifestaram oficialmente sobre o caso, mas a falta de comunicação prévia com o Itamaraty sugere que o incidente pode gerar atritos nas relações bilaterais entre Brasil e Estados Unidos. Para os próximos dias, espera-se que o Ministério das Relações Exteriores do Brasil emita algum posicionamento sobre o ocorrido, especialmente considerando que a oferta de recompensa implica na possibilidade de cidadãos brasileiros serem recrutados para fornecer informações diretamente a um governo estrangeiro, sem a intermediação ou conhecimento das autoridades nacionais, o que levanta questões legais e de segurança nacional que precisarão ser avaliadas pelos órgãos competentes.
Impactos nas relações diplomáticas e na segurança regional
A oferta americana de recompensa por informações sobre o Hezbollah na região da Tríplice Fronteira revela a continuidade da estratégia unilateral dos Estados Unidos em questões de segurança internacional, especialmente sob a administração Trump, e poderá ter desdobramentos significativos nas relações diplomáticas com o Brasil e outros países da região. A iniciativa reforça a percepção de que os EUA frequentemente agem sem considerar adequadamente os protocolos diplomáticos e a soberania de outras nações quando se trata de seus interesses de segurança nacional. Nos próximos dias, analistas esperam que as autoridades brasileiras avaliem cuidadosamente como responder a esta situação sem comprometer as relações bilaterais com os Estados Unidos, que permanecem um importante parceiro comercial e estratégico, mas também sem abrir mão da autonomia brasileira em questões de segurança nacional e política externa.