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Avanço médico revolucionário reescreve DNA e cura bebê de doença genética rara

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Tratamento inédito abre caminho para terapias personalizadas.

Um bebê norte-americano de dois anos chamado Kyle tornou-se o primeiro paciente do mundo a ser curado através de um tratamento pioneiro de edição genética. Os médicos conseguiram literalmente “reescrever” seu DNA, corrigindo uma mutação genética que causava uma doença rara e potencialmente fatal. A equipe médica do Hospital Infantil da Filadélfia, na Pensilvânia, desenvolveu um medicamento personalizado que foi administrado diretamente no organismo da criança, em um procedimento que representa um marco histórico na medicina de precisão. Kyle havia sido diagnosticado aos dois dias de vida com deficiência de CPS1, uma condição genética extremamente rara que afeta apenas um em cada 1,3 milhão de bebês. Esta doença impede que o organismo remova adequadamente a amônia da circulação sanguínea, o que pode causar danos graves a diversos órgãos, incluindo o cérebro, e é fatal para metade dos recém-nascidos afetados. Sem o tratamento inovador, se sobrevivesse, Kyle teria graves atrasos mentais e de desenvolvimento, além de eventualmente necessitar de um transplante de fígado.

O tratamento inovador consistiu na aplicação de um medicamento feito sob medida para corrigir a mutação específica no DNA de Kyle. Cada infusão durava aproximadamente duas horas, e até o momento, o bebê recebeu três doses do medicamento personalizado. Os resultados superaram as expectativas dos médicos e pesquisadores envolvidos no estudo. Com a medicação, Kyle passou a tolerar proteínas normalmente em sua dieta, algo impossível antes do tratamento, e apresentou avanços significativos em seu desenvolvimento global. Os pais de Kyle, Nicole e Kyle Muldoon, aceitaram incluí-lo no estudo experimental após constatarem que os tratamentos convencionais disponíveis não ofereciam alternativas viáveis para a condição do filho. A decisão revelou-se acertada, pois a intervenção parece ter revertido completamente a condição, embora os especialistas ainda não saibam se o menino precisará de terapia contínua no futuro. A médica Rebecca Ahrens-Nicklas, uma das responsáveis pelo tratamento, afirmou que o objetivo final é que Kyle possa viver “com muito pouca ou nenhuma medicação”. O procedimento utilizou uma tecnologia conhecida como edição de base, que permitiu aos cientistas corrigir uma única “letra” do código genético de Kyle, reescrevendo precisamente o trecho do DNA alterado responsável pela doença.

Este feito representa um novo capítulo na história da genética médica e foi apresentado no principal encontro de especialistas da área nos Estados Unidos, além de ter sido publicado no prestigiado periódico médico The New England Journal of Medicine. O Dr. Kiran Musunuru, especialista em edição genética da Universidade da Pensilvânia e integrante da equipe responsável pelo tratamento, não hesitou em declarar: “Não acho que esteja exagerando ao dizer que este é o futuro da medicina. Minha esperança é que, um dia, nenhum paciente com doenças raras morra prematuramente por ‘erros de ortografia’ em seus genes, porque seremos capazes de corrigi-los”. Por enquanto, o método é viável apenas para doenças hepáticas, devido à facilidade de entrega das instruções genéticas ao fígado, mas os cientistas acreditam que a técnica poderá, no futuro, ser aplicada também no tratamento de doenças neurológicas e genéticas mais complexas, como a distrofia muscular. O caso de Kyle não é isolado; outro bebê identificado como KJ, uma menina americana com a mesma condição, também foi beneficiada por um tratamento semelhante. Ela foi diagnosticada com apenas uma semana de vida e os médicos utilizaram a mesma ferramenta de edição genética para corrigir o trecho alterado do DNA. Estes casos destacam o potencial revolucionário da tecnologia como uma solução para milhares de doenças raras causadas por mutações genéticas, abrindo perspectivas de tratamentos com potencial de cura para distúrbios que até então limitavam drasticamente a expectativa e a qualidade de vida dos pacientes.

A revolução na medicina personalizada representada pelo tratamento de Kyle e KJ oferece esperança para milhões de pessoas no mundo que nascem com mutações genéticas causadoras de doenças raras. No entanto, os pesquisadores alertam para os desafios financeiros e logísticos de desenvolver tratamentos personalizados em larga escala. Cada terapia genética personalizada exige um extenso trabalho de sequenciamento, análise e desenvolvimento de medicamentos específicos para a mutação de cada paciente, o que atualmente representa um processo caro e demorado. Os cientistas esperam que, com o avanço da tecnologia e a redução dos custos de sequenciamento genético, esses tratamentos possam se tornar mais acessíveis no futuro. A expectativa é que estes primeiros casos bem-sucedidos incentivem investimentos em pesquisa e desenvolvimento nesta área promissora da medicina. O potencial transformador desta abordagem vai além das doenças raras, podendo eventualmente ser aplicado em condições genéticas mais comuns e até mesmo em alguns tipos de câncer. Embora ainda esteja em fase experimental, o tratamento que salvou Kyle representa um marco promissor que poderá mudar fundamentalmente a maneira como entendemos e tratamos doenças genéticas. Como resumiu um dos pesquisadores envolvidos no estudo, estamos testemunhando o início de uma nova era na medicina, onde não apenas tratamos os sintomas das doenças, mas corrigimos suas causas fundamentais no próprio código da vida.